Poder tradicional

Ensa Camará empossado como novo régulo de Sector de Bissorã

 

O cidadão, Gabriel Ensa Camará aproximadamente de 60 anos de idade, neto de família real do regulado da Tabanca de “Camará Cunda”, em Bissorã, foi neste domingo, 6 do corrente mês, empossado como Régulo do referido sector, preenchendo, assim, um vazio do poder, deixado aos 39 anos, pelo próprio pai, último regulo Malam Bá (Darame) Camará, falecido em 1972.

A cerimónia tradicional de investidura foi executada pelo Régulo de Gabú, Saico Embaló e o evento foi oficializado no Comité de Estado de Bissorã, pelo chefe do gabinete do Ministro de Administração Interna (MAI), João Pinto em representação do Ministro de Administração Territorial, na presença do Administrador local que igualmente representava o Governado regional, ambos ausentes no acto, devido a reunião do Comité Central do PAIGC, Deputados do referido Sector, bem como autoridades tradicionais e religiosas, familiares, amigos e populares do sector que afluíram à cerimónia numerosamente.

Na cerimónia em que usaram vários intervenientes, o representante do Governo, realçou a importância do poder régulo, salientando que o mesmo constitui um ajudante do Governo, junto das populações, sobretudo no sentido de espelhar as preocupações e necessidades dos cidadãos.

Nesta ordem de ideia lembrou que o mesmo poder de Régulo é incompatível com a instituição de qualquer Governo ou Estado, se não da própria população, baseada na democracia tradicional.

Por isso João Pinto exortou a colaboração de todos os cidadãos sem quaisquer escolhas de raça, partido ou religião, realçando que o Governo irá prestar a mesma atenção ao Régulo ora empossado, tal como o faz com os outros régulos.

Por sua vez, o Administrador de Bissorã, Queba Seide considerou que o poder ora instituído, regressou à sua Tabanca, graças aos esforços e consenso conjunto do Governo com os populares, que começou desde Junho do ano 2010. 

Queba Seide deixou um alerta para a população em geral, no sentido de enterrarem o manchado de guerra de passado, para tornarem colaboradores do regulado “mas” no sentido positivo e não do negativo, apontando a “conspiração e intriga” como factores que confundem o regulado.

Aliás, disse o Administrador de Bissorã que por motivos acima indicados, provavelmente tenha a ver com fortes razões de morte estranha do último régulo Malam Bá (Drame) Camará em 1972 e consequentemente da quebra e vazio do referido poder, não obstante as várias tentativas feitas, contudo sem sucesso. 

Queba Seide prometeu assim, continuar a esforçar-se, tendo em conta os projectos ambiciosos, de reorganizar e urbanizar certas zonas, que pretende realizar no sector, aproveitando os princípios de processo de paz.

No entender do Administrador de Bissorã a implementação do supracitado projecto será mais fácil com a existência do poder tradicional, na mais alta figura de Régulo.

Queba Seide confirmou o seu apoio total ao Régulo recém-empossado, justificando e lembrando que foi uma escolha de toda a população, sobre um poder cuja destituição ultrapassa o poder democrata, se não o da própria população, caso que raramente acontece.

Em reacção, o recém-empossado Régulo, Gabriel Ensa Camará, em poucas palavras e pela força de emoção escapou-lhe lágrimas, mas com firmeza, garantiu, “serei Régulo para todos. Espero atingir as vossas expectativas, por isso estarei à disposição de todos e todas, nesta tarefa tão difícil de consolidação de perdas, das necessidades e de possível alívio de aflições dos irmãos”. Para este efeito Gabriel Ensa Seide precisou que todos venham a servir de bons colaboradores, transformando nele um parceiro do Estado, em benefício da própria população do sector.

Em reacção, tanto do Régulo de Gabú, anciãos de Bissorã, as suas ideias e aplausos, foram sentidas pela manifestação vocal de espírito de satisfação perante o regresso de um poder quase perdido, se não congelado há 39 anos, desde que faleceu o último régulo da tabanca.

Entretanto, a representante das Mulheres Mama Coiaté num improviso, confirmou que todas as mulheres estavam satisfeitas com o regresso do poder tradicional do regulado da tabanca e também da escolha do régulo que caiu sobre a família real. Sublinhando, o esforço conjunto dos representantes do Governo em colaboração com os idosos da aldeia, como conhecedores de raízes tradicionais do regulado.

Neste sentido, exortou a colaboração de toda a classe social, que para ela deve partir do princípio de coesão e coerência, nas pessoas mais próximas do régulo.

Em termos de justificação, Maimuna Coiaté defendendo que aqueles são vistos como figuras de paz e também de instabilidade para o poder tradicional, que agora se reaviva.

Relativamente às últimas histórias do passado, esta representante das mulheres ousou que os factos não deixaram boas impressões a boa imagem do regulado na aldeia de (Camara Cunda), em consequência existia o receio e o vazio sobre a tradição do referido poder tradicional na aldeia.  

Recorda-se que a cerimónia de investidura foi rigorosamente realizada à maneira do uso, costume e ritos, com a entoação de músicas de “djidius”, batuques de tambores e dança que ladeavam o Régulo durante todo o percurso da visita de cortesia que o recém-empossado régulo fazia para certos lugares de relevo tradicional e para alguns anciões de Bissorã.

 

Texto e Fotos: Nelinho N´Tanhá

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